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sábado, 12 de março de 2011

O vencedor real?



English:



O discurso do rei (The king's speech, EUA, 2010)

Direção: Tom Hooper

Estrelando: Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Bonham Carter ,Guy Pearce ,Timothy Spall, Derek Jacobi, Jennifer Ehle, Michael Gambon




Ok, vamos lá então. Grande vencedor do Oscar 2010, e diversos outras premiações, o "Discurso do rei" é o filme do momento que melhor retrata o fenômemo chamdo de "Backlash". O chamado "backlash" ´uma reação negativa a objetos culturais ou personalidades que ganharam uma grande popularidade, por desmerecimento ou por obscurecer outros, que segundo aqueles que criticam, deveriam receber os méritos. No caso do Oscar 2010, os "queridinhos" do público foram "Cisne negro" e "A rede social", e por isso muitos pintam "O discurso do rei", e o seu diretor Tom Hooper, como medíocres injustiças da academia, sendo chamado de iscar de Oscar, pois o filmes possui elementos conhecidos por serem favorecidos na escolha da premiação.

E eu tenho que dizer, o longa é mesmo uma isca de prêmios. Mas isso faz dele um filme ruim?

A principal crítica que o filme recebe é a de que é manjado. Baseado na história real do Rei da Inglaterra George VI (interpretado por Firth), que sofria de uma gagueira intensa e recorre ao terapeuta da fala Lionel Logue (Rush), um australiano de classe baixa. Sim amigos, é mais uma história de uma pessoa de classe alta sendo ajudada por uma de classe baixa, mostrando a dinâmica do conflito social na relação de duas pessoas enquanto elas expõem as suas diferenças e trabalham em uma amizade que complementa um ao outro…. hum… pensem em "Conduzindo Miss Daisy" (também um vencedor do Oscar… lembrem, isca). Mas ser manjado faz dele um filme ruim? Não se o cenário e personagens forem bons certo?

O cenário é Londres pré Segunda Guerra Mundial (a guerra mais explorada do cinema ocidental). Com o nazismo chegando ao ponto de ebulição e a inconsistência do trono real graças ao caso amoroso do seu irmão, Bertie, George VI para os íntimos, tem encontrar as forças para superar a gagueira e entregar um discurso motivacional para seus súditos sobre os tempos difíceis que estão a vir. A história gira em torno da relação entre o rei e seu terapeuta, com muitos diálogos de exposição e exercícios pesados de atuação, como Firth mostrar a ansiedade e angústia que o rei sofre a cada vez que as palavras entalam na sua garganta e Rush, com a sua voz de veludo, que sabiamente conduz o atormentado Bertie a lidar com as suas impostas obrigações pela sua herança real.

Então sim, esse é um daqueles "filmes de ator", nos quais a história abre espaço para os seus atores usem o palco afim de demostrarem suas habilidades em montar um personagem. Firth se contorce, engasga, grita, chora e até se faz de pinguim, pois ele quer passar a idéia de um homem com a auto- estima destruida não só pelo problema físico como o seu psicológico, causado por uma família que, segundo as palavras do próprio personagem, é uma firma. Rush tira de letra o estereotipado velho sábio, frustrado mas bondoso. O dueto dos dois funciona porque eles são bons no que fazem, simples assim. Então aquela estatueta que Firth está polindo agora é bem merecida.

O problema está que um filme focado em mostrar o quão bom os seus atores são geralmente peca na hora de contar uma boa história. Muitas cenas sem nenhum propósito estão neste filme, como a de mostrar uma audição fracassada de Logue para uma peça. Sim, ela traz mais um pedaço do personagem, mas não complementa em nada o enredo, e isso é ruim, não importa se foi interpretada de forma maravilhosa. E não só passagens foram desperdiçadas, mas bem como outras figuras históricas, como a Rainha (Bonham Carter…. é bom te ver fora dos filmes do Tim Burton), uma personalidade tão forte resumida a apoio moral do protagonista.

Claro que o filme tem as suas qualidades, e a seu clímax é bem executado, tanto que quando chegamos na hora do discurso, é difícil não se emocionar junto. Esse tipo de empreendimento e conexão é difícil mas muito bem recebido por qualquer platéia no mundo inteiro, e o "Discurso do Rei" consegue atingir essa meta. Mas ainda assim não quer dizer que ele contou uma boa história.

No restante o filme é mediano. Uma produção história bem feita, mas nada que já não vimos diversas vezes. Uma boa trilha sonora, mas que apenas brilha no momento que recorrem ao Beethoven, cinematografia e direção com poucos momentos de inspiração (no clímax) e um enredo que se foca tanto nos seus dois protagonistas que nunca chega a mostrar com eficiência a era turbulenta em que a história se passa, logo falhando em apresentar a grande importância e urgência que o discurso tem. Então não, o filme não consegue contar uma boa história.

Com defeitos, como momentos bem piegas e um script que força um humor e frases deslocadas , dá para entender as revoltas causadas por este longa ter recebidos tantos prêmios. Mas querem saber? Mesmo não curtindo tanto assim, eu consigo ver porque muitos se encantaram com este filme. É um conto de coragem e superação, e Firth é matador em mostrar o conflito e Rush conduz os diálogos com tamanha destreza que é gostoso ver esses dois talentos em ação. Uma história manjada, sem dúvida, mas o filme possui carisma e personalidade para entreter e inspirar os espectadores.

Eu não posso garantir se a pessoa vai gostar ou não de o "Discurso do Rei", mas eu posso garantir quando chegar os créditos, ninguém vai pensar que perdeu duas horas.

Nota: 8,0


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