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sábado, 30 de abril de 2011

Cala a boca crime!!

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Super (Super, EUA 2011)

Direção: James Gunn

Estrelando: Rainn Wilson, Ellen Page, Liv Tyler e Kevin Bacon


Hoje eu vou tentar uma coisa diferente povo. Este é um filme independente que ainda não estreou no Brasil. Seu título é "Super", escrito e dirigido pelo talentoso James Gunn. Então vamos lá, eis a resenha:

É impossível ignorar a invasão de super-heróis no cinema. Com pelo menos 4 super produções este ano envolvendo personagens clássicos dos quadrinhos é inegável que, por hora, Hollywood simplesmente não consegue se cansar dos mascarados defensores da justiça.

Mas junto com os heróis originais dos quadrinhos, uma nova onda de filmes desconstroem o mito dos guerreiros mascarados ao colocam pessoas normais em uma fantasia com resultados diferentes, mas sempre fundados na nossa realidade. Em "Kick-Ass" vimos o que acontece quando um adolescente idiota resolve dar ouvidos a suas fantasias juvenis, com um resultado previsível tirando o insano terceiro ato que é mergulhado em um humor negro. Em "Defendor" temos uma análise mais psicológica, mostrando que a linha que separa ler sobre super-heróis e ser um é a insanidade.

Em "Super" temos uma mistura desses dois filmes, e ainda se sobressai como sendo o "superior" ahaha (ugh… foi mal), em uma mistura de construção de personagem com o mito de que um homem trajando uma fantasia com um símbolo ganha poderes, não literalmente, obviamente, mas para atuar fora das regras da sociedade. Não é necessário ser mais rápido que uma locomotiva para ser um "super-homem", um uniforme vermelho e uma chave de boca é o bastante para um homem sentir que tem o poder.

O filme conta a história de Frank (Wilson, o eterno Dwight de "The Office"), um homem medíocre em todos os aspectos possíveis. O nosso protagonista trabalha como um cozinheiro de uma lanchonete pé-rapada, não é esperto, não é bonito, não é interessante e a sua vida é uma repetição de incidentes humilhantes. Com uma vida tão deprimente não é se espantar que Frank se apegue aos únicos dois bons momentos da sua vida: Seu casamento com a bela Sarah (Tyler) e quando ele ajudou um policial a pegar um bandido. Tamanho o orgulho que Frank tem desses dois feitos que ele infantilmente os desenha para motivá-lo durante o dia. Mas quando Sarah volta a seus antigos hábitos com drogas e alcoolismo e deixa Frank pelo o grande traficante local, Jacques (Bacon, simplesmente louco, se divertindo como nunca), é quando o "mundo perfeito" de Frank desmorona.

Com uma polícia apática e com a esposa  constantemente entorpecida pelas drogas, Frank cai em uma enorme depressão. E é ai que as coisas ficam estranhas. Diferente de outros Zés fãs de quadrinhos que procuram nas fantasias um escapismo para suas existências miseráveis, Frank é escolhido por "Deus" em uma sequência que já de cara nos mostra que não podemos confiar na sanidade do nosso protagonista. Após a revelação e inspirado por um herói da TV cristã, o "Holy Avenger" (uma óbvia brincadeira com o Bible Man, sim isso existe de verdade), Fank cria a persona do "Relâmpago Escarlate".

Munido com uma feramente e um traje vermelho, o vigilante passa a combater o crime recitando incessantemente seu mantra "Cala a boca crime". Durante a sua cruzada, o herói ganha uma assistente, Liby (Page). De uma entusiasmada atendente de uma loja de quadrinhos, a jovem se torna Boltie. E caramba, o diretor não segura nem um pouco ao mostrar como uma máscara libera toda a psicose contida em uma moça magricela. É estranhamente fascinante ver Ellen Page rir como uma garotinha ao proclamar que esmigalhou as pernas de um dos bandidos… e isso é apenas a ponta do iceberg para Boltie.

Mostrar como alguém pode liberar o monstro interior com uma fantasia é um dos pontos principais de "Super". O Relâmpago Escarlate é capaz de mandar alguém para a UTI por furar a fila, então vocês sabem o tipo de lunático que estamos lidando. Mas é ai que entra a força de atores que estão no melhor das suas formas. Rainn Wilson consegue ir de extremos, de um apático e desinteressante ninguém até uma triste criatura ciente de quão patético é, fazendo-nos simpatizar com alguém disposto a sair por ai fraturando crânios. Ellen Page, geralmente na pele de moça inteligente e sarcástica agora interpreta uma criança de 11 anos em um corpo de mulher. A transformação desses dois personagens é feita através de cenas violentas e graficamente fortes, junto com um humor desconfortável e incrivelmente negro, juntando cenas de pessoas explodindo as tripas com as onomatopéias iconografias do antigo seriado do Batman.

E ai está a estranha singulariedade que James Gunn conseguiu com este filme. Conhecido principalmente por sua paródia de filmes de mostros/terror "Slither", Gunn tem em Super o seu melhor filme (sabiam que ele escreveu os filmes do Scooby-Doo?). Com a mão na direção e roteiro, o homem conseguiu trazer a grande louca aventura que um homem normal se torna um herói mas sem nunca deixar de lembrar a audiência que os nossos heróis são pessoas doentes, mas ao mesmo tempo nós conseguimos criar uma conexão e simpatia pelos heróis e ainda por cima consegue dar atenção a pequenos detalhes e reações de até mesmo os capangas do vilão. Ufa… ele trouxe tudo isso em um só filme, um feito e tanto já que a maioria dos filmes atuais mal sabem o que querem ser (vide o Garota da Capa Vermelha).

Com a idéia do longa nascida em 2002 nove anos na cozinha realmente valeram a pena para Gunn, que conseguiu entregar um dos melhores filmes independentes que eu vi há anos. E ajuda muito que suas estrelas pularam com os dois pés no seu projeto ao entregarem performances fantásticas. Mas isso não desculpa a cinematografia sem imaginação tirando a brincadeira com os "pows" e "booms" . Em um filme que tenta misturar a amarga realidade de que a violência faz no corpo das pessoas com a surrealidade dos super-heróis e pessoas que tem visões de tentáculos divinos, o filme ousa muito pouco em como ele apresenta essa história.

O filme ainda não saiu no Brasil, e eu não sei quando vai entrar no circuito nacional ou se quer se vai sair no cinema. Mas decidi fazer essa resenha para tentar divulgar este filme dar um empurrão para quem o conhece mas está em cima do muro sobre se vale a pena ou não, pois bem, ai vai o meu "SIM! veja este filme". É engraçado da maneira que ninguém gosta de rir, mas ri de qualquer forma, e com tantos filmes de heróis com finais felizes, procure em "Super" um refresco da invasão dos heróis da Marvel e DC.

Nota: 9,0

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